Parque dos Poetas, Matola: versos e memória no jardim da palavra

No coração da Matola, o Parque dos Poetas é um espaço onde a literatura se encontra com a natureza. Dedicado aos grandes nomes da poesia moçambicana, o jardim literário celebra a palavra escrita como património vivo da cidade. Entre esculturas, citações e recitais, o local tornou-se símbolo de cidadania, memória e inspiração, mostrando que a …

No coração da Matola, entre avenidas movimentadas e bairros em crescimento, há um espaço onde o ruído da cidade cede lugar à voz dos poetas. É o Parque dos Poetas, um jardim literário único em Moçambique, onde a arte da palavra ganhou forma de monumento, caminho e árvore.

Quem o visita pela primeira vez sente que está a entrar num livro aberto. As alamedas têm nomes de escritores, as pedras guardam citações gravadas e as sombras das árvores parecem sussurrar versos de José Craveirinha, Noémia de Sousa ou Rui Knopfli.

É um espaço de silêncio e de reflexão, mas também de encontro e de celebração.

Criado para homenagear os grandes nomes da literatura moçambicana, o Parque dos Poetas é mais do que um tributo: é um símbolo da memória cultural da cidade da Matola, que transformou um espaço urbano comum num território da imaginação.

A ideia de criar o parque nasceu do desejo de valorizar a poesia como herança viva da nação. Inaugurado no início da década de 2010, o espaço foi concebido como um jardim temático da literatura, onde cada recanto inspira leitura, escrita e contemplação.

O percurso é pontuado por esculturas e painéis com excertos de poemas, dispostos entre flores tropicais, bancos de pedra e árvores frondosas. Em cada canto, uma voz literária revive, Craveirinha, “o poeta da revolta”; Noémia de Sousa, “a voz da mulher africana”; Marcelino dos Santos, “o poeta da liberdade”.

Nas manhãs de domingo, é comum ver estudantes e grupos culturais reunidos sob a sombra das acácias, declamando poemas, tocando violão ou ensaiando peças de teatro. À noite, quando a brisa sopra, o parque ganha uma atmosfera íntima, como se as palavras ecoassem do chão.

Poesia, memória e cidadania

O Parque dos Poetas é também um espaço de cidadania e pertença. Ali, a literatura deixa de ser um exercício reservado às escolas e torna-se parte do quotidiano. As crianças aprendem a reconhecer nomes e versos; os adultos reencontram, entre as árvores, memórias de juventude e sonhos antigos.

O local recebe regularmente feiras do livro, oficinas de leitura, exposições e recitais de poesia, que fortalecem o vínculo entre arte e comunidade. Cada evento é uma celebração do poder da palavra, entendida como força de identidade e resistência.

O jardim é, assim, um museu a céu aberto, onde a literatura deixa de estar confinada às bibliotecas para ocupar o espaço público. É uma forma de dizer que a cultura vive melhor quando é partilhada.

O Parque dos Poetas tornou-se um dos símbolos culturais da Matola e um dos seus espaços mais fotografados. É destino obrigatório para estudantes, professores, artistas e visitantes que procuram um contacto direto com o património literário nacional.

Mas, mais do que isso, é um espaço que inspira. Ao caminhar pelos seus trilhos, o visitante descobre que a poesia está nas árvores, nas vozes das crianças, nas conversas dos casais, no vento que atravessa as folhas. A poesia, ali, é uma forma de respirar.

Ao entardecer, quando a luz se deita sobre as estátuas e o chão se cobre de flores caídas, o parque parece transformar-se num grande poema visual, onde cada cor e cada sombra formam um verso silencioso.

O Parque dos Poetas da Matola é mais do que um espaço verde. É um altar da palavra, uma homenagem viva à literatura moçambicana e ao poder da imaginação. É o lugar onde o passado e o presente se encontram através dos versos que moldaram o pensamento de um país.

Num tempo em que a pressa domina as cidades, o parque lembra a importância de parar e escutar. De ler. De sentir.

E assim, entre as árvores e os poemas gravados na pedra, a Matola revela o seu lado mais sensível: a cidade que lê, que sonha e que transforma o silêncio em poesia.

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