O Monumento aos Mortos da Primeira Guerra Mundial: Um símbolo de memória eterna

Erguido em 1934 no coração de Maputo, o Monumento aos Mortos da Primeira Guerra Mundial é um obelisco de granito que homenageia combatentes portugueses e africanos mortos entre 1914 e 1918. O local, inicialmente símbolo do império colonial, foi reconfigurado ao longo das décadas como espaço de reflexão histórica e reconciliação. Após a independência, a …

Há lugares que não são apenas geográficos. São espirituais. O Monumento aos Mortos da Primeira Guerra Mundial, erguido no centro de Maputo, é um desses lugares. Com a sua forma esguia de obelisco de granito, este testemunho silencioso guarda ecos de conflito, sacrifício e unidade imperial. Inaugurado em 1934, representa o tributo aos combatentes portugueses e africanos caídos entre 1914 e 1918, e desde então, é um marco da herança colonial que moldou Moçambique.

A Origem e o Contexto Histórico

O monumento foi concebido nos anos 1920, no rescaldo da Grande Guerra, para perpetuar a memória dos soldados portugueses mortos em combate, incluindo aqueles enviados para as frentes africanas contra as forças alemãs na África Oriental. Em Moçambique, então província ultramarina de Lourenço Marques, o conflito envolveu tropas locais, os chamados “askaris” africanos, ao lado de contingentes metropolitanos, numa campanha que se estendeu de 1916 a 1918 e resultou em milhares de vítimas.

A iniciativa partiu da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, uma associação portuguesa, que promoveu a construção em várias cidades do império. Em Maputo, o projecto foi aprovado pelo governo colonial em 1930, reflectindo o esforço de nacionalismo salazarista para glorificar o sacrifício imperial. “Era uma forma de afirmar a unidade do império através da dor partilhada”, observa o historiador João Baptista, especialista em história militar colonial, em recente análise ao tema.

A Arquitectura Simbólica e a Sua Localização Central

Localizado na antiga Praça da Policiaria, hoje integrada no espaço urbano da Avenida 24 de Julho, o monumento assume a forma clássica de um obelisco de granito cinzento, com cerca de 10 metros de altura, coroado por uma cruz latina e inscrito com nomes de regimentos e datas chave da guerra. A base, ornamentada com baixos-relevos de soldados em marcha e símbolos bélicos como espadas e loureiros, evoca o estilo neoclássico europeu, inspirado em monumentos parisienses e lisboetas.

Construído com materiais importados de Portugal, o obelisco foi desenhado pelo arquitecto local Alfredo Augusto Lisboa, que optou por uma simplicidade austera para contrastar com o bulício tropical da cidade. Anualmente, até à independência, realizavam-se cerimónias de homenagem com deposição de flores e salvas de canhão, atraindo veteranos e famílias enlutadas.

Com a revolução dos Cravos em 1974 e a independência de Moçambique em 1975, o monumento enfrentou um período de negligência. Durante a guerra civil (1977-1992), o espaço ao redor degradou-se, e o obelisco foi visto por alguns como resquício do colonialismo opressor, levando a actos de vandalismo isolados. No entanto, a Frelimo, partido no poder, preservou-o como parte do património histórico, reconhecendo o contributo de moçambicanos na guerra – muitos dos quais foram recrutados à força.

Hoje, o monumento integra o circuito turístico de Maputo, visitado por académicos e turistas interessados na diáspora portuguesa. “Representa não só a perda, mas a complexidade das identidades africanas na era colonial”, comenta a guia cultural Maria Fernandes, durante visitas guiadas ao local.

Preservação e o Legado para Gerações Futuras

Nos últimos anos, esforços de restauro, financiados pelo Instituto do Património Cultural de Moçambique, restauraram o granito erodido e o pavimento circundante, transformando o sítio num espaço de reflexão pacífica. Em 2018, por ocasião do centenário do fim da Grande Guerra, realizou-se uma cerimónia conjunta luso-moçambicana, com a presença de embaixadores, sublinhando a reconciliação histórica.

Enquanto Maputo avança com modernizações urbanas, o Monumento aos Mortos da Primeira Guerra Mundial permanece um lembrete silencioso das ligações transatlânticas e das lições da guerra. Para os moçambicanos e visitantes, é um convite à memória colectiva, onde o passado colonial se entrelaça com a narrativa de uma nação soberana. Visitas ao local estão disponíveis gratuitamente, convidando a uma pausa contemplativa no ritmo acelerado da capital.

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