Situada no coração de Maputo, a Feira de Artesanato (FEIMA) é um espaço que combina arte, tradição e sustentabilidade. Criada em 1989, no pós-independência, com o objectivo de revitalizar a economia e valorizar a cultura local, tornou-se um dos pontos turísticos mais visitados da capital. Com cerca de 200 bancas, o mercado exibe esculturas, tecelagens, …
Feira de Artesanato: Um bazar vibrante de tradições vivas

No coração de Maputo, a capital moçambicana, estende-se o Mercado de Artesanato, um vibrante labirinto de barracas e ateliers que evoca as tradições ancestrais e o espírito comercial de África Austral. Inaugurado em 1989 como parte da Feira de Artesanato, Flores, Gastronomia e Maputo (FEIMA), este espaço não só exibe a maestria dos artesãos locais como simboliza a fusão de culturas moçambicanas, resistindo ao tempo e às transformações económicas que moldaram o país.
A Origem e o Contexto Histórico da Criação
O mercado foi concebido nos anos 1980, no rescaldo da independência e da guerra civil, para revitalizar a economia local e preservar as artes tradicionais ameaçadas pelo conflito. Em Moçambique, então emergindo da era colonial portuguesa, o artesanato remonta aos povos bantu e às influências swahili e indianas, com rotas comerciais que ligavam o interior ao Oceano Índico desde o século XV. Durante o período colonial, em Lourenço Marques, peças como esculturas em marfim e tecidos tingidos serviam o comércio imperial, mas a independência em 1975 e a guerra (1977-1992) dispersaram muitos artesãos.
A iniciativa partiu do Ministério da Cultura moçambicano, em parceria com associações locais, que promoveram a concentração de vendedores num só local para fomentar o turismo e o rendimento. Em Maputo, o projecto foi aprovado em 1988, reflectindo o esforço pós-revolucionário para afirmar a identidade nacional através da criatividade popular. “Era uma forma de reconstruir a nação através das mãos dos seus criadores”, observa a artesã Maria Nhaca, fundadora de uma cooperativa de tecelagem, em recente entrevista ao Jornal Notícias.
A Arquitectura Vibrante e a Sua Localização Privilegiada
Localizado ao longo da Avenida Marginal, o passeio ribeirinho icónico de Maputo, com vista para o Índico, o mercado assume a forma de um conjunto de pavilhões abertos e barracas coloridas, com cerca de 200 bancas distribuídas em 5 hectares. As estruturas, de madeira e palha inspiradas em aldeias tradicionais, são adornadas com padrões geométricos makonde e murais de artistas locais, evocando o estilo vernacular africano misturado com toques modernos. A entrada principal, com um arco de escultura colectiva, e as secções temáticas, como a de madeira exótica e a de joalharia – criam um ambiente imersivo e acolhedor.
Construído com materiais locais e importações mínimas, o espaço foi desenhado por arquitectos moçambicanos como o colectivo Urbanismo Participativo, que optou por uma abertura ao ar livre para contrastar com o calor tropical da cidade. Diariamente, o mercado pulsa com o movimento de compradores, onde se realizam demonstrações ao vivo de escultura e tecelagem, atraindo turistas e residentes em busca de peças únicas.
O Impacto da Independência e a Evolução Pós-Colonial
Com a consolidação da independência em 1975 e o fim da guerra civil em 1992, o mercado enfrentou um período de crescimento irregular. Inicialmente visto como motor de recuperação económica, o espaço sofreu com a escassez de matérias-primas e a emigração de artesãos durante o conflito, levando a uma redução temporária no número de bancas. No entanto, a Frelimo, partido no poder, integrou-o em políticas de desenvolvimento, reconhecendo o contributo das comunidades rurais, muitas das quais enviavam peças de províncias como Inhambane e Nampula.
Hoje, o mercado integra o circuito turístico de Maputo, visitado por mais de 100 mil pessoas anualmente, interessadas na diáspora cultural africana. “Representa não só o comércio, mas a resiliência das identidades moçambicanas na era pós-colonial”, comenta o director da Associação dos Artesãos de Moçambique, António Sitoe, durante visitas guiadas ao local.
Preservação e o Legado para Gerações Futuras
Nos últimos anos, esforços de modernização, financiados pelo Ministério do Turismo e parcerias internacionais como a UNESCO, renovaram as infraestruturas com energia solar e acessos para deficientes, transformando o mercado num hub sustentável. Em 2022, por ocasião do 30.º aniversário da FEIMA, realizou-se uma edição especial com exposições internacionais, sublinhando a exportação de artesanato moçambicano para Europa e Ásia.
Enquanto Maputo avança com urbanizações modernas, o Mercado de Artesanato permanece um lembrete vivo das ligações culturais e económicas que unem o continente. Para os moçambicanos e visitantes, é um convite à descoberta colectiva, onde o passado artesanal se entrelaça com a narrativa de uma nação criativa. Visitas ao mercado estão disponíveis diariamente, das 8h às 20h, convidando a uma imersão colorida no ritmo autêntico da capital.



