Entre colinas e vales do sul moçambicano, a Barragem dos Pequenos Libombos continua a ser o pulmão hídrico que abastece Maputo, Matola e Boane. O reservatório, essencial desde os anos 1980, equilibra o consumo urbano e agrícola, resistindo às secas e às pressões climáticas. Para além da sua importância funcional, tornou-se também um espaço de …
Barragem dos Pequenos Libombos: a força da água que alimenta Maputo

A poucos quilómetros da fronteira com a Suazilândia, entre colinas áridas e vales cobertos de acácias, estende-se um espelho de água que brilha ao sol como um diamante escondido. É a Barragem dos Pequenos Libombos, o reservatório que há mais de três décadas alimenta Maputo, Matola e Boane, e que, apesar das secas e dos ventos, continua a pulsar como o coração azul do sul moçambicano.
Construída nos anos 1980, a barragem nasceu da necessidade de garantir o abastecimento de água potável à crescente população urbana da capital. O seu nome vem da cordilheira que a abriga, os Pequenos Libombos, montanhas discretas mas imponentes que formam um cenário de serenidade e força.
Do alto das suas margens, a paisagem é impressionante. O lago serpenteia entre encostas avermelhadas, reflectindo o céu e as nuvens que passam. À distância, vêem-se os contornos da vila de Boane e, mais além, o horizonte onde começa o mar.
A água dos Pequenos Libombos é mais do que recurso; é fonte de vida. O reservatório fornece água para consumo humano, irrigação agrícola e actividades industriais, sustentando milhares de famílias na região.
Ao amanhecer, é comum ver pescadores a lançarem redes na superfície calma. O eco das suas vozes mistura-se com o chilrear das aves aquáticas e o som dos remos a tocar a água. Nos arredores, pequenos agricultores cultivam hortas e plantações de cana, aproveitando o sistema de irrigação que desce das encostas.
Em tempos de seca, o espelho de água baixa e deixa à vista as margens fendidas, lembrando a fragilidade do equilíbrio entre homem e natureza. Mas, quando as chuvas voltam, o lago renasce e as colinas recuperam o verde. É um ciclo que se repete, como uma lição de resistência.
O desafio da gestão e o valor da preservação
A Barragem dos Pequenos Libombos é também um símbolo dos desafios da gestão dos recursos hídricos. A pressão demográfica e a irregularidade das chuvas exigem planeamento e cooperação entre as autoridades, as comunidades e os países vizinhos, já que o rio Umbelúzi atravessa Eswatini antes de chegar a Moçambique.
Nos últimos anos, foram lançadas iniciativas para melhorar o controlo do caudal, reduzir perdas de água e reforçar o tratamento antes da distribuição. Campanhas de sensibilização alertam para o uso racional da água, lembrando que cada gota conta.
A barragem tornou-se igualmente um espaço de lazer e contemplação. Jovens, turistas e famílias visitam-na aos fins-de-semana para observar o pôr-do-sol, que tinge o lago de laranja e ouro, enquanto o vento sopra das montanhas.
Vista do alto, a Barragem dos Pequenos Libombos é mais do que uma obra de engenharia. É uma metáfora da cidade que abastece. A água que nasce ali percorre quilómetros, atravessa tubagens e chega às torneiras de Maputo, invisível mas essencial, ligando as montanhas ao quotidiano urbano.
É ela que apaga a sede, que faz crescer os jardins, que sustenta a vida de milhões de pessoas.
É ela, também, que recorda que o futuro de Maputo depende da preservação da natureza e do uso consciente da água.
Nas manhãs silenciosas, quando o nevoeiro cobre o lago e as colinas se reflectem na superfície, a barragem parece respirar. É o som da terra a cuidar da cidade.
Nos Pequenos Libombos, a força da água continua a ser a força da vida.



